segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

470

" E era silencioso. Só o borbulhar do pequeno riacho e o farfalhar ocasional das folhas lá no alto, numa pequena ondulação de brisa, quebravam o silêncio.
Will pôs no chão o embrulho de comida; Lyra deixou junto sua pequena sacola. Não havia sinal dos dimons sombras em lugar nenhum. Estavam completamente sozinhos.
Tiraram os sapatos e as meias e sentaram nas rochas cobertas de musgo na beira do riacho, mergulhando os pés na água fria e sentindo o choque da temperatura revigorar o sangue deles.
- Estou com fome - declarou Will.
- Eu também - disse Lyra, embora estivesse sentindo mais que isso, alguma coisa evidente, silenciosa e urgente meio feliz, meio dolorosa, não dava para ter muita certeza do que era.
Eles desfizeram o embrulho, abriram o pano e comeram pão com queijo. Por algum motivo as mãos deles estavam lentas e desajeitadas, e mal sentiram o gosto da comida, embora o pão estivesse saboro e crocante por ter sido assado nas pedras bem aquecidas e o queijo fosse macio, salgado e muito fresco.
Então Lyra pegou uma daquelas frutinhas vermelhas. Com o coração batendo acelerado, se virou para ele e disse:
- Will...
E levou a fruta delicadamente até a boca de Will.
Ela pôde ver pelo olhar de Will que, imediatamente havia compreendido o que ela queria fazer, e que estava feliz de mais para falar. Os dedos de Lyra ainda estavam nos lábios dele e Will os sentiu tremer, e levantou a mão para segurar os dedos dela ali, e nenhum dos dois conseguia olhar para o outro; estavam confusos; estavam transbordando de felicidade.
Como duas mariposas desajeitadamente se esbarrando, sem mais peso que isso, seus lábios se tocaram. Então, antes que soubessem como havia acontecido, estavam abraçados, cada um cegamente apertando o rosto colado no outro.
- Como Mary disse... - susurrou ele - você sabe imediatamente quando gosta de alguém... quando você estava dormindo, na montanha, antes que ela levasse você embora, eu disse a Pan...
- Eu ouvi - susurrou ela - estava acordada e queria dizer a mesma coisa para você, e agora sei o que eu estava sentindo o tempo todo: eu amo você, Will, eu amo você... "

A Luneta Âmbar. Philip Pullman

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